Os contos da carochinha que os
eleitores enterraram
Nestes dias, saudavelmente agitados pelo debate democrático, a direita, que tem a capacidade de dominar a comunicação social privada (quase toda), tem tornado pública uma campanha para amedrontar os portugueses que votaram maioritariamente por políticas de esquerda e, mais expressivamente, contra a política de austeridade desenvolvida pela coligação PSD/CDS.
Ainda no tempo da “outra senhora” se contavam contos que moldaram as consciências. Quase todos contos de terror, do Inferno e seus Diabos, de injecções atrás da orelha, de criancinhas comidas ao pequeno almoço e outros do mesmo estilo. Para muitos esses contos poderiam parecer de atrasados mentais. No entanto a panóplia era muito variada e estava ajustada para entrar nos mais variados cérebros.
Depois da Revolução do 25 de Abril de 1974, muitos desses contos ficaram adormecidos face à dinâmica desses tempos. No entanto a direita, a contra revolução, aguardava a oportunidade de ir ao sótão buscar as velhas arcas dos contos de Salazar, António Ferro (e sua Política do Espírito), e outros Goebbels, mais ou menos modernos.
Com as devidas adaptações, apoiados pelo IV Poder, a Comunicação Social, voltaram esses Goebbels a acordar os medos escondidos nos subconscientes dos vários estratos sociais. A pobreza, cada vez mais acentuada, o desemprego, a instabilidade, o pessimismo quanto ao futuro, foram entre outros o caldo onde seriam refugados os contos antigos, para que fossem bem ingeridos. Aos poucos foram fervendo preconceitos que temperaram a propaganda de papas e bolos destes últimos 40 anos. As recentes eleições foram ricas em exemplos. Nesta ementa a ordem de entrada na panela é arbitrária.
Primeira estória: O “arco da governação”
O que está a acontecer pôs a nu as mentiras e a manipulação que a direita tentou nas eleições, condicionando o voto aos partidos do “arco da governação”, como se para além desta troika PSD, CDS e PS, nada mais houvesse. O avanço da Esquerda colocou em causa o conceito de "arco da governação". Esta estória do “arco da governação” está morta e enterrada.
Segunda estória: A bipolarização ou um jogo a dois
Decorrente do modelo “arco da governação” as eleições seriam para escolher um de dois: PS ou coligação. A Comunicação Social foi ao ponto de só ouvir Passos e Costa e só eles tiveram direito a primeiras páginas. A Televisão no canal generalista, o mais visto, apenas promoveu um debate entre os dois.
A derrota da direita e a ausência duma maioria absoluta, desmascarou a ficção deste conto.
Terceira estória: As eleições para primeiro ministro
É fácil de ver que este contos de fadas envolve a mesma ideia cujos resultados pretendem ser a alternância entre, sempre os mesmos. Apesar de criado o engano das eleições para Primeiro Ministro, ou para o governo, a realidade mostrou que são os deputados eleitos de todos os partidos que vão decidir. Mais um conto que foi arrumado na arca das velharias.
Quarta estória: O voto “útil”
Na continuação da anterior, a comunicação social e comentadores de serviço, apoiados nas “sondagens” estimularam o combate entre os dois principais partidos. Estímulo acompanhado de ingredientes como o “arco da governação” a bipolarização, as eleições para primeiro ministro. Também esta estória foi desmascarada pelos acontecimentos que mostraram as eleições são para eleger deputados e são os deputados que decidem qual o governo a formar.
Quinta estória: Fantasmas e papões
Mais que uma estória da carochinha “Fantasmas e Papões é um livro de contos. … “um entendimento entre PS, Bloco de Esquerda e PCP, seria um absurdo”, uma “batota política”, “um assalto ao poder”, “uma revolução”, “um mergulho no desconhecido”; a “instauração da miséria”, uma “irresponsabilidade antieuropeísta”, um “pandemónio ingovernável”, uma “aberração”, uma “vergonha nacional”, um alvo da “chacota internacional”, “mudar as regras e a tradição”, “uma conspiração”, um “delírio”, a “restauração do gonçalvismo”, “um golpe de Estado” e muitas outras que os jornalistas e comentadores inventaram. Uma evidente chantagem, que ainda não terminou para manter no governo a coligação que foi fortemente condenada pelos eleitores.
Sexta estória: O prestígio de Portugal na Europa
Cavaco, o mais desprestigiado presidente que a democracia teve, o máximo expoente do ridículo, invoca que uma maioria de esquerda desprestigia de Portugal. Para Cavaco e Passos, o prestígio de Portugal no estrangeiro é a submissão do país a Merkel, ao Junker, (a Durão Barroso que continua a conspirar) e aos “mercados”. Agora, que tiveram uma derrota estrondosa, com os piores resultados de há muitos anos, mais uma vez, estala o verniz e caem as máscaras dos que se dizem defensores da democracia, do diálogo e concertação. Perante a possibilidade de serem afastados do poder que não largam há quase 40 anos querem amedrontar com ameaças externas. Desprestigio foram as políticas que causaram o desemprego, o aumento da dívida externa, a pobreza, a corrupção dos governantes e de altos cargos políticos. Prestigiar Portugal é corrigir os erros desta política, só possível com um governo de esquerda.
Sétima estória: A estabilidade ameaçada
Novamente uma estória de medo assente nos preconceitos antigos da Política do Espírito de António Ferro. A direita não quer admitir que perdeu e que em Democracia há alternativas que defendem o país e os portugueses. A direita sabe que foi a sua política que acentuou as injustiças sociais e que desestabilizou.
Passos Coelho, agarra-se desesperadamente a Cavaco Silva que há muito perdeu a vergonha e exerce os poderes de Presidente da República para servir interesses partidários. Isso e violar a Constituição, é que desestabiliza. Cavaco que tentou influenciar as eleições com os apelos à maioria absoluta, não a teve por vontade dos portugueses. Ao contrário as eleições geraram uma maioria de esquerda que permite a estabilidade. PSD e CDS, tiveram uma grande derrota e para governar precisam de apoios. Onde estão eles?
Oitava estória: Os exemplos da Europa
Cavaco, agora “esqueceu-se” que a Europa, tem governos formados por partidos minoritários mas que estabeleceram consensos entre si para garantir a estabilidade no Parlamento. Independentemente dos exemplos que Cavaco esquece o nosso sistema político tem o Parlamento como centro. O povo elegeu deputados e é aos partidos que cabe negociar e chegar a um entendimento.
Nona estória: O partido com mais votos é que deve governar
Para além do que já se viu e dos exemplos europeus, quem manda é o povo e a vontade do povo foi a mudança de política expressa maioritariamente pelos votos nos vários partidos de esquerda.
Apesar da direita ter insistido que "a crise e a austeridade" estavam vencidas e ainda que tenham ganho votos com mais essa mentira, perderam mais de 700,000 votos. Ainda assim foram os que isoladamente tiveram mais votos. Por isso a direita, insiste numa outra mentira, de que quem "fica à frente" deve governar. Essa mentira cai pela base face à falta de apoio de um governo minoritário no Parlamento, apesar de ter “ficado à frente.”
O primeiro-ministro será quem tiver mais apoios e quem os deputados que elegemos quiserem.
Décima estória: Os comunistas empurram o PS para a direita
As declarações do BE, do PCP e do PEV mostram que ao contrário do que a direita do PS dizia, não é a esquerda que empurra o PS para a direita. Essa acusação feita principalmente ao PCP é desmentida face ao apoio para que o PS forme governo com uma política de esquerda consensual.
Décima primeira estória: A Europa connosco. A Europa é progresso para Portugal
Cada vez mais cidadãos, estão a descrer das promessas feitas com a entrada para a União Europeia e desejam uma mudança de política também na Europa. As desigualdades na Europa são cada vez maiores e muitos povos de países europeus desejam também mudanças de política.
Ficam muitas mais estórias por desmascarar. A vida se encarregará de trazer a verdade ao de cima.
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