Sobre a derrota que a direita pretende
esconder e o estado de espírito do povo
Sem referir a campanha eleitoral que
parece já ir longe, os dias do pós eleições têm sido de uma
riqueza política como já há muito não víamos.
O que se está a passar dá para dizer
tanta coisa que poderia encher páginas e páginas, ou neste caso
muitos Megabytes de memória.
Limito-me a retirar algumas conclusões
e, ainda que haja o risco de repetição é importante que seja
sublinhado, contribuindo para arrumar de vez as mentiras, as atoardas, as
deturpações que têm sido feitas ao longo dos tempos, que têm
influenciado negativamente o voto dos portugueses e que, agora estão
a ser utilizadas para deturpar o resultado das eleições e, ainda
mais grave obstaculizar a formação de um governo de esquerda que
traduza o sentimento da população que, maioritariamente, votou contra a política de
direita.
Na campanha eleitoral o PS, desta vez,
assumiu-se como esquerda que pretendia romper com a política de
direita, mais identificada com a austeridade.
Os votos do PS são votos de esquerda, de quem confiou nessas promessas.
Os votos de direita foram para a
coligação.
Os votos do BE são indubitavelmente de
esquerda.
Os votos do PCP estão bem
identificados. São de esquerda como ninguém duvida.
Os votos noutros partidos são de quem
não está com a coligação e quer mudanças, para a esquerda ou, eventualmente, para a direita.
Quais os significados das abstenções?
As abstenções, que têm vindo a
aumentar, podemos interpretá-las como quisermos mas, certamente não
são votos que apoiem a política que tem vindo a ser praticada no
país. Política há 39 anos de direita, seja ela liberal ou social
democrata. Para quem andou na rua a falar com muitas centenas de
pessoas sabe bem o que se ouvia predominantemente:
Eu não vou votar porque:
- Já não acredito nos políticos
- São todos iguais, são todos ladrões.
- Isto não muda e por isso não vale a pena votar
- etc., etc.,
Não seria ilógico dizer que, se a
maioria das abstenções revelam inconsciência cívica e política,
sobretudo revelam um desencanto com a política que vem sendo
praticada.
A direita, a que está concentrada na
coligação PSD e CDS, perdeu mais de 700,000 votos deixando de ter a
maioria e passando para uma baixa percentagem como há muito não
tinham.
Feito o balanço, não é difícil
concluir que a grande maioria dos portugueses não concorda com a
política de direita e pretende uma mudança, para a esquerda.
O sentimento instalado no povo
À luz do que foi dito, interpretando o sentimento de grande parte dos
abstencionistas, (que totalizaram 4 milhões) poderíamos dizer que,
aos que não votaram na coligação (mais de 60% dos votantes)
poderíamos juntar, pelo menos, metade dos abstencionistas (2 milhões)
para revelar o que é de facto o sentimento de revolta e descrença do povo. Atrevo-me a
admitir, sem grande risco, que 80% dos eleitores não concordam com a política que tem
vindo a ser praticada.
Tendo a Coligação menos de 2 milhões de votos (em 5 milhões
de votantes), e a esquerda cerca de 2,7 milhões, para exprimir o
sentimento do povo, que não apoia a política praticada, poderíamos juntar aos 2,7 milhões que
expressamente votaram contra a coligação pelo menos 2 milhões de
desiludidos que, por não acreditarem nesta democracia, face a esta política, por isso se abstiveram.
É de facto lamentável que existam 4
milhões de abstencionistas. É por isso lamentável que os muitos
destes não se tenham manifestado para que a derrota da direita fosse
ainda mais expressiva.
Sem comentários:
Enviar um comentário