14 de outubro de 2015

Notas sobre os resultados das eleições (I)

Sobre a derrota que a direita pretende esconder e o estado de espírito do povo

Sem referir a campanha eleitoral que parece já ir longe, os dias do pós eleições têm sido de uma riqueza política como já há muito não víamos.

O que se está a passar dá para dizer tanta coisa que poderia encher páginas e páginas, ou neste caso muitos Megabytes de memória.

Limito-me a retirar algumas conclusões e, ainda que haja o risco de repetição é importante que seja sublinhado, contribuindo para arrumar de vez as mentiras, as atoardas, as deturpações que têm sido feitas ao longo dos tempos, que têm influenciado negativamente o voto dos portugueses e que, agora estão a ser utilizadas para deturpar o resultado das eleições e, ainda mais grave obstaculizar a formação de um governo de esquerda que traduza o sentimento da população que, maioritariamente, votou contra a política de direita.

Na campanha eleitoral o PS, desta vez, assumiu-se como esquerda que pretendia romper com a política de direita, mais identificada com a austeridade.

Os votos do PS são votos de esquerda, de quem confiou nessas promessas. 
Os votos de direita foram para a coligação.

Os votos do BE são indubitavelmente de esquerda.

Os votos do PCP estão bem identificados. São de esquerda como ninguém duvida.

Os votos noutros partidos são de quem não está com a coligação e quer mudanças, para a esquerda ou, eventualmente, para a direita.

Quais os significados das abstenções?

As abstenções, que têm vindo a aumentar, podemos interpretá-las como quisermos mas, certamente não são votos que apoiem a política que tem vindo a ser praticada no país. Política há 39 anos de direita, seja ela liberal ou social democrata. Para quem andou na rua a falar com muitas centenas de pessoas sabe bem o que se ouvia predominantemente:
Eu não vou votar porque:
  • Já não acredito nos políticos
  • São todos iguais, são todos ladrões.
  • Isto não muda e por isso não vale a pena votar
  • etc., etc.,
Não seria ilógico dizer que, se a maioria das abstenções revelam inconsciência cívica e política, sobretudo revelam um desencanto com a política que vem sendo praticada.

A direita, a que está concentrada na coligação PSD e CDS, perdeu mais de 700,000 votos deixando de ter a maioria e passando para uma baixa percentagem como há muito não tinham.

Feito o balanço, não é difícil concluir que a grande maioria dos portugueses não concorda com a política de direita e pretende uma mudança, para a esquerda.

O sentimento instalado no povo

À luz do que foi dito, interpretando o sentimento de grande parte dos abstencionistas, (que totalizaram 4 milhões) poderíamos dizer que, aos que não votaram na coligação (mais de 60% dos votantes) poderíamos juntar, pelo menos, metade dos abstencionistas (2 milhões) para revelar o que é de facto o sentimento de revolta e descrença do povo. Atrevo-me a admitir, sem grande risco, que 80% dos eleitores não concordam com a política que tem vindo a ser praticada.

Tendo a Coligação menos de 2 milhões de votos (em 5 milhões de votantes), e a esquerda cerca de 2,7 milhões, para exprimir o sentimento do povo, que não apoia a política praticada, poderíamos juntar aos 2,7 milhões que expressamente votaram contra a coligação pelo menos 2 milhões de desiludidos que, por não acreditarem nesta democracia, face a esta política, por isso se abstiveram.

É de facto lamentável que existam 4 milhões de abstencionistas. É por isso lamentável que os muitos destes não se tenham manifestado para que a derrota da direita fosse ainda mais expressiva.



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