Será que existe democracia? Ou democracia é apenas um ideal? E se é um ideal, que ideal é esse?
Ainda que seja meu objectivo apenas dar ideias simples e levantar questões, que nos ajudem a pensar, dada a amplitude do tema, vou dividir os textos, ou as postagens se preferirem, em vários capítulos.
Como é sabido as ideias de Democracia vêm da Grécia Antiga (demo=povo e kracia=governo), o que interpretado na sua pureza daria Governo do Povo. Pergunta-se desde logo. Povo a governar ou, governo em nome do povo? Reflictamos nos casos conhecidos da história, em especial a partir do séc. XIX e, mais particularmente, após os primórdios da Revolução Industrial.
Nessa época, de grande riqueza histórica e cultural, desenvolveram-se duas doutrinas políticas dominantes, o liberalismo de um lado e o socialismo do outro. Cada uma delas era sustentada por pessoas que ocupavam diferentes posições na sociedade.

O trabalho humano e a liberdade
Há muito que filósofos descobriram que o trabalho é fonte de libertação, factor de cultura e de progresso. O trabalho dá dignidade ao ser humano, por o colocar em vantagem aos restantes animais, controlando a natureza para melhorar o seu bem-estar.
No século XVIII a primazia pela razão elevou o homem como responsável pelo progresso material e técnico e pela descoberta de que essa qualidade exigia liberdade de viver e pensar. Este conceito de liberdade foi uma reacção ao Absolutismo Monárquico. A intervenção do Estado, absolutista, na economia foi vista como uma limitação da liberdade. Assim as ideias liberais começaram a surgir contra o Absolutismo, contra o direito divino dos Reis e da Religião de Estado. Destacaram-se Adam Smith, Jean-Jacques Rousseau, Locke, Montesquieu e Voltaire, entre outros.
O trabalho livre foi considerado integrante da liberdade do indivíduo.
A partir do final do Séc XVIII, e depois da Revolução Francesa, os burgueses foram conseguindo o poder nos principais países da Europa.
Os burgueses mais ricos, com o desenvolvimento da técnica, aperfeiçoaram meios de produção sofisticados que permitiam maior produção a custos mais baixos, concorrendo em vantagem com os outros artesãos. O laissez-faire (liberdade de cada um fazer) está no cerne da regulamentação das novas actividades de produção que revelavam qualidades novas “industriais”. Esses burgueses, puderam então controlar as relações de trabalho, a vida nas fábricas, sem restrições. A liberdade permitia que se instituísse uma nova forma de escravidão, com o aumento do poder dos que assim conseguiam aumentar rápidamente a sua fortuna. O operário não passava de um simples meio de produção.
A liberdade de contratar não dava meios ao operário, subjugado pela fome. O trabalho era a sua única fonte de sobrevivência e portanto não podia recusar uma jornada de trabalho que muitas vezes se estendia durante quinze horas, em condições de higiene e segurança deploráveis tendo que aceitar uma retribuição miserável. Teoricamente livre, o operário tornava-se cada vez mais dependente do patrão. Surgia uma concepção de direito a que posteriormente correspondeu um papel do estado, contrária aos interesses do proletariado. A classe operária sem qualquer protecção, sofria, enquanto o Estado assistia inerte, na convicção liberal de que seu papel não devia ir além da ordem pública, podendo os cidadãos conduzir-se como melhor lhes aprouvesse. Jonh Locke afirmou: "ao Estado não cabe interferir. O homem é livre. A intervenção do Estado é negativa". É fácil concluir que, esta concepção de liberdade, serve apenas a quem tem o poder.
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