Um Criador de Porcos que despejava os dejectos da pocilga para o rio da Aldeia.
A água, essencial para as pessoas, animais e agricultura, ficou poluída e os habitantes começaram a adoecer.
O Criador de Porcos, homem astuto, de iniciativa e bom falador, logo viu uma oportunidade para criar, para além dos porcos, uma Clínica para curar a população cada vez mais doente. O Presidente da Câmara, liberal e confiante nos "lei dos mercados" nada fazia pois, apesar de pressionado pela população, recebia os favores do Criador de Porcos e agora, também Empresário da Saúde, que entretanto abriu uma Farmácia na Aldeia.
A população doente, com menos possibilidades de trabalhar, deixou de ter dinheiro para as despesas essenciais. Então o Criador de Porcos, Empresário da Saúde e Farmacêutico, logo viu uma outra oportunidade e fundou um Banco para ajudar a população.
Captado o dinheiro que as pessoas ainda guardavam no colchão, constituiu um fundo, para emprestar, a juros, aos mais necessitados.
Os aldeões para pagar os juros dos empréstimos vendiam o que podiam ao, agora, Banqueiro que comprava a baixo preço, para lhes fazer o favor, para que eles pagassem as dívidas ao seu Banco.
Os aldeões que viviam do trabalho das suas terras ficaram sem terras.
O Criador de Porcos, Banqueiro, Empresário da Saúde e Farmacêutico, então, para os ajudar, ofereceu-lhes trabalho para que continuassem tratar das terras, produzindo para ele.
A população, agradecida, juntou-se e, apesar dos poucos recursos, conseguiu juntar dinheiro para fazer uma estátua, bem no centro da Aldeia, ao seu benfeitor.
O Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e, agora, também Lavrador ia ajudando a população, que adoecia não só com a água contaminada, mas agora também com a fome e com o trabalho a mais, a que, a austeridade, para vencer a crise, obrigava. A conselho do benfeitor da Aldeia, Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e Lavrador, aumentaram as horas de trabalho e reduziram a alimentação, pois, concluiu ele, estavam a gastar acima das suas possibilidades. Apesar do aumento do trabalho, os salários não aumentaram, devido à crise que tocava a todos, e não chegavam para o sustento das famílias e para pagar ao patrão os medicamentos, a conta da clínica e os juros dos empréstimos.
Como uma desgraça nunca vem só, a água contaminada, atingiu os poços e deixou de poder ser utilizada. Os animais morreram. O desespero na Aldeia crescia. E, com o desespero começaram a surgir críticas à situação. Houve até alguém que quis recordar a origem dos problemas.
Então, o Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e Lavrador, sempre atento, resolveu criar um Jornal e organizar umas festas populares. As pessoas não tinham nada mas andavam entretidas.
Criado o ambiente, o Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro, Lavrador, Empresário da Comunicação Social e Cultura, convocou toda a população e disse:
- Eu estou a fazer todos os esforços para vos ajudar. Como sabem eu é que vos tenho resolvido os problemas. Criei uma Clínica, uma Farmácia, um Banco para vos emprestar dinheiro e dou-vos trabalho sem o qual vocês não viviam. Preocupo-me com a vossa Informação e Cultura. Agradeço a estátua que me fizeram. Mas, se votarem em mim, para Presidente da Câmara eu prometo fazer uma captação de água para a aldeia.
As pessoas exultaram, mais uma vez agradecidas. Para outra estátua já não havia dinheiro. Contudo, graças ao benfeitor, havia uma solução para salvar a Aldeia da Crise. Votar no benfeitor da aldeia! A única solução. Afinal, a água era o principal problema. O benfeitor iria ser Presidente da Câmara para os defender. O Jornal da Terra assim o aconselhava.
Com esta garantia, o Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e Lavrador, Empresário da Comunicação Social e Cultura, tratou de imediato de criar mais duas empresas. Uma para fazer a rede de águas, a quem ele adjudicaria a obra, outra para fazer a distribuição, contagem e cobrança da água aos aldeões. O resto adivinha-se.
O Criador de Porcos, Empresário da Saúde, Farmacêutico, Banqueiro, Lavrador, Empresário da Comunicação Social e Cultura, Industrial da Construção, Empresário das Águas, Projectista, Consultor Municipal, e benfeitor da Aldeia continuou por mais uns anos como Presidente da Câmara, até que...
E depois, e depois? Quero saber!
ResponderEliminar...Depois é o que vamos ver. Cada qual que escolha o fim...
ResponderEliminarParabéns ao autor deste texto.
ResponderEliminarEstá magnífico, vou partilhar.
...até que (certamente!), os aldeõs descobriram que afinal os "grandes" benefícios não tinham sido para eles.
ResponderEliminarUm abraço.
Ora aí está um texto que deveria constar dos manuais escolares infantis!!!
ResponderEliminarAbraço
Rui Silva