9 de maio de 2011

O Criador de Porcos

Era uma vez...


Um Criador de Porcos que despejava os dejectos da pocilga para o rio da Aldeia.
A água, essencial para as pessoas, animais e agricultura, ficou poluída e os habitantes começaram a adoecer. 
O Criador de Porcos, homem astuto, de iniciativa e bom falador, logo viu uma oportunidade para criar, para além dos porcos, uma Clínica para curar a população cada vez mais doente. O Presidente da Câmara, liberal e confiante nos "lei dos mercados" nada fazia pois, apesar de pressionado pela população, recebia os favores do Criador de Porcos e agora, também Empresário da Saúde, que entretanto abriu uma Farmácia na Aldeia.

A população doente, com menos possibilidades de trabalhar, deixou de ter dinheiro para as despesas essenciais. Então o Criador de Porcos, Empresário da Saúde e Farmacêutico, logo viu uma outra oportunidade e fundou um Banco para ajudar a população.
   
Captado o dinheiro que as pessoas ainda guardavam no colchão, constituiu um fundo, para emprestar, a juros, aos mais necessitados. 
Os aldeões para pagar os juros dos empréstimos vendiam o que podiam ao, agora, Banqueiro que comprava a baixo preço, para lhes fazer o favor, para que eles pagassem as dívidas ao seu Banco.
Os aldeões que viviam do trabalho das suas terras ficaram sem terras. 
O Criador de Porcos, Banqueiro, Empresário da Saúde e Farmacêutico, então, para os ajudar, ofereceu-lhes trabalho para que continuassem tratar das terras, produzindo para ele. 

A população, agradecida, juntou-se e, apesar dos poucos recursos, conseguiu juntar dinheiro para fazer uma estátua, bem no centro da Aldeia, ao seu benfeitor.

O Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e, agora, também Lavrador ia ajudando a população, que adoecia não só com a água contaminada, mas agora também com a fome e com o trabalho a mais, a que, a austeridade, para vencer a crise, obrigava. A conselho do benfeitor da Aldeia, Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e Lavrador, aumentaram as horas de trabalho e reduziram a alimentação, pois, concluiu ele, estavam a gastar acima das suas possibilidades. Apesar do aumento do trabalho, os salários não aumentaram, devido à crise que tocava a todos, e não chegavam para o sustento das famílias e para pagar ao patrão os medicamentos, a conta da clínica e os juros dos empréstimos.


Como uma desgraça nunca vem só, a água contaminada, atingiu os poços e deixou de poder ser utilizada. Os animais morreram. O desespero na Aldeia crescia. E, com o desespero começaram a surgir críticas à situação. Houve até alguém que quis recordar a origem dos problemas.
Então, o Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e Lavrador, sempre atento, resolveu criar um Jornal e organizar umas festas populares. As pessoas não tinham nada mas andavam entretidas. 

Criado o ambiente, o Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro, Lavrador, Empresário da Comunicação Social e Cultura, convocou toda a população e disse:
- Eu estou a fazer todos os esforços para vos ajudar. Como sabem eu é que vos tenho resolvido os problemas. Criei uma Clínica, uma Farmácia, um Banco para vos emprestar dinheiro e dou-vos trabalho sem o qual vocês não viviam. Preocupo-me com a vossa Informação e Cultura. Agradeço a estátua que me fizeram. Mas, se votarem em mim, para Presidente da Câmara eu prometo fazer uma captação de água para a aldeia. 

As pessoas exultaram, mais uma vez agradecidas. Para outra estátua já não havia dinheiro. Contudo, graças ao benfeitor, havia uma solução para salvar a Aldeia da Crise. Votar no benfeitor da aldeia! A única solução. Afinal, a água era o principal problema. O benfeitor iria ser Presidente da Câmara para os defender. O Jornal da Terra assim o aconselhava.

Com esta garantia, o Criador de Porcos, Empresário, Farmacêutico, Banqueiro e Lavrador, Empresário da Comunicação Social e Cultura, tratou de imediato de criar mais duas empresas. Uma para fazer a rede de águas, a quem ele adjudicaria a obra, outra para fazer a distribuição, contagem e cobrança da água aos aldeões. O resto adivinha-se. 

O Criador de Porcos, Empresário da Saúde, Farmacêutico, Banqueiro, Lavrador, Empresário da Comunicação Social e Cultura, Industrial da Construção, Empresário das Águas, Projectista, Consultor Municipal, e benfeitor da Aldeia continuou por mais uns anos como Presidente da Câmara, até que... 



5 comentários:

  1. ...Depois é o que vamos ver. Cada qual que escolha o fim...

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  2. Parabéns ao autor deste texto.
    Está magnífico, vou partilhar.

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  3. ...até que (certamente!), os aldeõs descobriram que afinal os "grandes" benefícios não tinham sido para eles.

    Um abraço.

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  4. Ora aí está um texto que deveria constar dos manuais escolares infantis!!!
    Abraço
    Rui Silva

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