O 18 de Janeiro de 1934, foi uma revolta dos operários vidreiros da Marinha Grande contra o Estado Novo e contra as duras condições de vida acentuadas pela crise do capitalismo de 1929. Pretendiam os revoltosos que a luta se estendesse a todo o país mas tal não sucedeu. Apenas algumas lutas, sem grande significado, não impediram que a revolta fosse dominada.
Na Marinha Grande, esta luta tomou proporções de forte Insurreição Armada. A classe operária vidreira estava bem organizada e consciente, pois tinha participado ao longo dos últimos anos, em muitas lutas sociais.
A fome, a miséria e a falta de liberdade, foram as razões para a sua unidade, organização e luta.
A crise do capitalismo em 1929
No final dos anos 20 e início dos anos 30 do século XX os tempos foram particularmente difíceis para a classe operária em geral e especialmente na Marinha Grande. A grande crise do capitalismo iniciada em 1929 teve efeitos devastadores na indústria vidreira. Muitas empresas faliram ou encerraram, deixando muitos operários no desemprego. Mas a classe operária não baixou os braços e o número de greves e manifestações foi imenso. «Não sei se houve alguma zona do País em que as lutas atingissem o grau que atingiram na Marinha Grande.» (Avante! n.º 1572, de 15 de Janeiro de 2004). Merecem destaque as «marchas da fome» e a grande greve de nove meses na Guilherme Pereira Roldão, que culminaria com uma vitória dos operários. Ao mesmo tempo, reforçava-se a unidade e organização da classe operária marinhense.
A classe operária organizou-se no seu partido e sindicatos
As associações sindicais de classe – dos garrafeiros, vidraceiros, cristaleiros e lapidários – unificam-se, dando lugar a uma única organização da indústria vidreira, de âmbito nacional, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria do Vidro, criado em 1931. No plano político, o PCP era já a força determinante junto dos operários vidreiros
Também em 18 de Janeiro de 1934, O movimento e as lutas foram organizadas e dirigidas pelo Partido Comunista Português. Durante algumas horas, na Marinha Grande, o poder esteve nas mãos dos operários vidreiros. Contudo a insurreição não alastrou e as forças repressivas do fascismo conseguiram dominar os revoltosos. Foram feitas dezenas de prisões, em especial comunistas e a maioria dos presos foram deportados para o campo de concentração do Tarrafal.
Desenho de Dias Coelho, dirigente comunista, morto pela PIDE |
A luta continua
No seu conjunto, as condenações ultrapassaram os 250 anos de prisão. António Guerra e Augusto Costa morreram no Tarrafal e Francisco da Cruz não resistiu às condições prisionais em Angra do Heroísmo. Os estragos provocados pela repressão na organização sindical e partidária na Marinha Grande foram profundos, mas acabaram por ser ultrapassados. Em breve, o Partido tinha reconstruído a sua organização nas principais empresas. A solidariedade com as famílias dos operários presos, que se viram privadas do salário, foi outra coisa que o fascismo não matou. Grupos organizados recolhiam contribuições à saída das fábricas.
Apesar de vencida, a revolta dos operários marinhenses permanece como um exaltante exemplo de heroísmo da classe operária portuguesa.
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