11 de julho de 2011

Reflectir e... aprender (2)

Um discurso de alerta

O discurso de Jerónimo de Sousa, no passado dia 8, em Lisboa, merece uma reflexão atenta pois tem um conteúdo muito rico de análises da situação que vivemos. 
Há anos que se agrava a situação económica e social do país “com as medidas a reboque das classificações e opiniões das agências de notação (…) com a política dos PEC em carrossel, sempre justificados pela necessidade da acalmia dos mercados e da travagem da especulação que nunca parou e que, como vemos, não vai parar enquanto permanecerem as actuais orientações políticas e (…) a atitude obediente e servil, de quem está sempre pronto para ceder a nova chantagem e a dobrar a parada dos sacrifícios aos trabalhadores e ao povo.

O passar do testemunho

Sócrates saiu da cena política derrotado, depois de anos a maltratar o país com o apoio do PSD, CDS-PP, do grande capital financeiro e especuladores. 
Sócrates saiu mas os estragos ficaram e continuam com Passos Coelho. E não foram apenas os estragos económicos e financeiros. A política de direita no esforço de se aguentar criou uma cultura de desinformação, de baixos valores, de desânimo, de afastamento das pessoas, minando a saúde mental de muita gente e a capacidade de pensar no "porquê de tudo isto". Assim muita gente que acreditou (e alguns ainda acreditam) que os “ricos nos ajudam se nos portarmos bem, se fizermos os trabalhos de casa”desvia a conversa continuando a dizer que “o mal é que os políticos são todos iguais”. Esta ideia, que apesar de irracional, foi muito bem aproveitada pela direita no poder, para impedir que as pessoas descubram as diferenças e deixem ficar tudo na mesma. 
Este é um fenómeno antigo que já Bertolt Brecht descreveu no seu famoso texto “O Analfabeto Político”:


Pessoalmente, acho inconcebível que num mundo cada vez mais marcado por lutas de morte, pela guerra, pela fome e miséria, um mundo onde as desigualdades são cada vez mais acentuadas, mesmo nos países mais ricos e ditos democráticos, haja tanta gente que ainda continue a dizer que os políticos são todos iguais e, quando chega a altura de escolher…  não repara que deixa tudo na mesma como realmente a direita quer. 


Assobiar p'ro lado e... estaca zero?

“Queimado” Sócrates, o PS tenta agora, como diz Jerónimo, “pôr outra vez a zero o conta-quilómetros da sua responsabilidade e das manobras de distanciamento em relação ao próprio acordo com a troika estrangeira, que promoveram e foram os primeiros subscritores”. Contudo o PS tem dificuldade em se desligar da política que faz desde que em 1978, Mário Soares, com a ajuda do seu amigo Carlucci, meteu o “socialismo na gaveta”.

De cedência em cedência o PS arrastou muitos trabalhadores que confiaram no Socialismo, para uma política de submissão ao Capitalismo e até ao capitalismo mais selvagem como o que vivemos hoje. Jerónimo de Sousa refere de forma clara este processo também “humilhante para aqueles que acorrentaram o país e o seu destino aos desígnios da troika da intervenção externa, do seu programa de regressão social e de declínio nacional” concluindo que “não podia ser mais esclarecedor do fiasco da estratégia desses partidos e do caminho que escolheram para o país – o caminho da rendição à insaciável gula dos grandes interesses financeiros nacionais e estrangeiros. O caminho da penalização e dos sacrifícios para os trabalhadores, as camadas populares, o nosso povo e de afundamento e ruína do país. O caminho da capitulação à vontade dos mercados e às orientações do neoliberalismo dominante que aprisionou o poder político e usurpou e usurpa a legitimidade dos povos de decidirem da sua vida colectiva”.

Quem é lixo? Lixo são os que exploram e vivem do trabalho dos outros.

Foi preciso, agora, que as agências de rating, ao serviço do grande capital americano, nos classificassem de lixo, depois de termos seguido a política que nos impuseram, para, como disse o Secretário Geral do PCP, “aqueles que ainda há pouco, acompanhando Cavaco Silva, nos criticavam e diziam não valer a pena criticar as posições dos mercados internacionais porque não beneficiavam o país, clamam agora indignados com a desfeita da classificação de lixo da dívida pública portuguesa. São, contudo, clamores de circunstância que não correspondem às suas reais posições políticas, como está bem patente no programa de Governo que acabaram de apresentar e nas medidas que acabam igualmente de anunciar”.

“Mas esta situação de pressão sistemática e permanente dos grandes centros do capital financeiro e especulativo é também reveladora da justeza das análises do PCP e da importância das suas propostas para a saída da crise, para pôr o país a funcionar, relançar a economia e desenvolver o país, defendendo as conquistas sociais e condições de vida dignas para o povo”. Isto porque os políticos não são todos iguais.


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