Da “Europa Connosco” para a “Europa da Heterogeneidade”
O Presidente do BCE, Mario Draghi disse que os valores da
solidariedade e da inclusão são eixos do modelo social europeu, mas, "esse
modelo está morto". Não deu explicações.
Dos poucos argumentos produzidos, Mario Draghi justificou com a crise a necessidade de cada
um "se desenrascar". Justificou a ausência de coesão (aquilo que nos
"venderam" para entrarmos na CEE) e a realidade de “uma época de
heterogeneidade” (ou seja desigualdades). Assim abriu caminho para, à moda dos
tecnocratas nacionais e da troika, preparar o "pessoal" para deixar
de pensar em solidariedades e outros valores, "antiquados", e sujeitarmo-nos
a uma revisão moderna “desse modelo”.
Recordar, é preciso
Raciocinando na base dos valores desta sociedade: Fomos
assediados pela publicidade de uma “Europa da Solidariedade”, da “Europa
Connosco”. Ainda me recordo de Mário Soares, como delegado da propaganda para
Portugal, a vender o seu produto aos portugueses. De comissões nada sei. Só sei
que pelos seus bons serviços de vendedor, foi justamente promovido e
remunerado.
Veio o Cavaco e aproveitando o "mercado", aviou os
produtos que Soares tão bem vendeu. Não teve mãos a medir. Entregas ao balcãoe
ao domicílio pelos seus marçanos que carregavam cestos de subsídios para
destruir a agricultura, para abater as oliveiras e as vinhas, para matar as
vacas produtoras de leite, para afundar os barcos de pesca, enfim para acabar
com a produção nacional.
Portugal, com a esperteza de Soares e destreza de Cavaco, passaria a viver sem precisar de trabalhar. Com os subsídios da "Europa Connosco" compraríamos tudo o que precisássemos.
O PCP alertou para que não nos fiássemos na
fartura das esmolas, mas, o povo tinha sido bem preparado com o "canto da
sereia". Grandes empresários, famosos industriais, agricultores
latifundiários, receberam as "encomendas de subsídios" e, lestos,
trocaram máquinas por carros de luxo, barcos de pesca por iates, instalações
industriais por grandes moradias com belas piscinas.
O desemprego cresceu, mas Soares e sua equipa de vendas
dizia. É preciso que o desemprego aumente para captar investidores. E assim
foi.
Mas os investidores não criaram mais emprego. Preferiram,
comprar as empresas que teimosamente continuavam a produzir e, para acabarem com
a concorrência aos produtos que vendiam, fecharam metade delas.
Com o dinheiro das empresas vendidas os nossos empresários
passaram da engenharia mecânica para a engenharia financeira. Compraram e
venderam ações, fugiram aos impostos e depositaram os lucros nos paraísos fiscais
e bancos da Suíça.
A Europa Connosco, como quem vende “romances em folhetins”,
oferecia os primeiros volumes à borla, com a assinatura da compra dos próximos.
É o que se chama "fidelizar o cliente". Enquanto tem dinheiro
para pagar, o cliente tem sempre razão (desde que concorde com a Europa Connosco,
é claro).
Como não há sol que sempre dure, Portugal deixou de ter
dinheiro. Os "subsídios" já não chegavam para pagar o que comprávamos. Lidos os
primeiros folhetins, para saber como termina a história é preciso comprar os
outros ao dobro do preço. Contratos são para cumprir! Pois então!
Não há problema, dizia a Europa Connosco. Nós temos cartões
de crédito para distribuir. Compram agora e pagam depois. É preciso que
continuem fiéis clientes, sempre a comprar. Nada de produzir.
O PCP, o tal Partido que avisava que estávamos a ser “levados”, insistia no perigo de "destruir a produção nacional e a nossa
soberania". Cassete, diziam eles. Outros diziam: "Antiquados"! pois então! "Então não estamos nós em
tempos modernos de Globalização"?
Pela calada,
os delegados da "Europa Connosco" em Portugal dão instruções: "Cuidado com
os comunistas. Eles querem é mais trabalhadores para terem mais sindicalizados
e poderem fazer reivindicações. Fujam dos comunistas que eles querem pôr-vos a
trabalhar".
Chegou o dia em que as dívidas de Portugal eram mais do que
se produzia e os desempregados quase tantos como os que tinham empregos a
produzir. Então, a "Europa Connosco", deu um curso de Formação Professional aos
seus vendedores e, no final, um certificado de bom aproveitamento chamado "memorando"
ou "pacto de agressão" para começarem a exigir dos clientes. "Têm que pagar o que
devem".
Aumenta-se o trabalho dos que ainda têm emprego e reduz-se os
vencimentos. "Se não têm dinheiro nós emprestamos aos bancos a 1%. Mas são os "mercados" definir as
condições e os juros aos clientes", diz a "Europa Connosco", acrescentando "enfim, nós gostaríamos de ajudar mas... a crise...
compreendem...".
Entretanto, como não há dinheiro para comprar coisas e os
trabalhadores têm que trabalhar mais, não é preciso tantos a trabalhar e parte
deles vão juntar-se aos desempregados. O povo paga e a troika elogia os
vendedores, pois foram bons alunos. Fizeram os trabalhos de casa e tiveram boas
notas (nos seus dois significados).
Ontem, Mario Draghi esclarece. Esqueçam a Europa Convosco,
pois isso já deu o que tinha a dar. Agora temos a "Europa da heterogeneidade”. Ou seja
cada qual desenrasca-se, como puder e, se puder...
Genial está tudo dito. Dá até vontade de perguntar: Qual foi a parte que não percebeste?
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